Por
Tiago Trigo
Serviço:
na Netflix (3 temporadas - a primeira com 8 episódios com cerca de 40
minutos cada um)
Quem
gosta de futebol sabe que a discussão sobre qual torcida é mais fiel e fanática
é repetida à exaustão entre rivais como forma de provocação. E aqui falo da
brincadeira de bar, saudável, nada que passe disso. Também não é propriamente
uma novidade um time de pouca expressão ter uma torcida assim, mesmo com poucos
títulos. Mas a torcida do Sunderland F.C., clube pequeno da Inglaterra, é
realmente peculiar. Este é o principal foco narrativo da série original
Netflix. Se você gosta de futebol e está com abstinência nestes tempos de
pandemia, não vai se arrepender de assistir a todas as temporadas.
Esqueça
dribles, golaços ou outras demonstrações de qualidade técnica. Este não é o
foco aqui. Sim, em determinados momentos dá até um certo nervoso ver como
alguns jogadores são ruins. E aqui vale um comentário para entender a causa
disso: na Inglaterra, ao contrário do que ocorre no Brasil, os clubes de
futebol são empresas privadas que trocam de dono. E este é mais um ingrediente
para o momento retratado pela série. Uma troca de comando em meio a um dos
momentos mais conturbados da equipe, que foi rebaixada da primeira (Premier
League) para a segunda divisão (League One) e luta para voltar. Uma
realidade inconteste do futebol mundial: todo rebaixamento traz um enorme
prejuízo por conta da queda brusca das cotas de televisão, de patrocínio e da
venda de ingressos na bilheteria. Além disso, alguns jogadores de melhor nível
se recusam a jogar a segunda divisão do país. O cenário é desanimador, os
esforços do dono Ellis Short em vão. O clube, campeão inglês seis vezes, é
dirigido de forma quase amadora, com dinheiro do bolso de Short, que uma hora
se cansa e vende o clube para Stewart Donald, que busca profissionalizar a
gestão.
A
estrutura do clube é melhor que o futebol apresentado. O Estádio da Luz (sim,
mesmo nome do estádio do Benfica) tem capacidade para 49 mil pessoas e faz inveja
a 90% dos times de Série A do Brasil. Mas o que realmente faz a diferença é a
torcida da pequena cidade, que respira aquele clube como se fosse oxigênio. Já
imaginou uma senhora grudada no rádio no último dia da janela de transferências
esperando o anúncio da contratação do reforço mais esperado para salvar o time
no meio de uma temporada ruim? Pois a tristeza e a alegria em Sunderland são ditadas
por um único fator: o desempenho do time da cidade em campo. Assista e se não simpatizar com a equipe vermelha do norte inglês pode desistir. Seu coração
virou pedra.